Por que belarussos não apoiam a ideia da participação de Belarus na guerra?

Henadz Kórshunau, colabolador do Centro Analítico “Centro de novas ideias” e um conhecido sociólogo, reflete sobre o porquê de as atitudes em relação à guerra entre russos e belarussos serem tão diferentes. Deve ser lembrado que Belarus está incluída no campo da informação russa e, até recentemente, belarussos tinham sentimentos mais positivos em relação à Rússia do que em relação à Ucrânia.

Estudos sociológicos recentes mostram que há apoio público para a “operação especial” na Rússia e é muito alto – 60–70%. Ao mesmo tempo, a situação em Belarus é radicalmente oposta. Mesmo antes do início da guerra, apenas 11-12% dos habitantes do país apoiavam a ideia de uma possível participação de Belarus na guerra entre a Rússia e a Ucrânia (ver estudo da Chatham House, coleta de dados de 20 de janeiro a 9 de fevereiro de 2022). Estou mais do que certo de que agora há ainda menos pessoas que pensam assim.

Parece que uma das explicações é uma percepção diferente da guerra. Em primeiro lugar, da Grande Guerra Patriótica (embora se você olhar mais fundo na história, a tendência será confirmada). Sim, em ambos os casos, esta guerra é um dos lugares centrais da história dos países, mas a percepção e o significado são diferentes.

Para a grande maioria dos belarussos, a Grande Guerra Patriótica é um elemento da história familiar, não formal e cotidiana. Com histórias ou silêncios de avós, com túmulos militares na periferia e a verdade sobre guerrilheiros, com fotografias de uma cidade natal bombardeada, um monumento ao gueto judeu numa rua próxima.

E para os russos… Veja até onde a linha de frente avançou para o leste – Carélia, Leningrado, região de Moscou, Stalingrado, Kuban. O resto (Urais, Sibéria, Extremo Oriente) foi a retaguarda. Sim, os heróis da retaguarda, “tudo pelo front”, funerais que não voltaram da guerra… Mas a própria guerra estava longe, nos jornais e na rádio com notícias da linha de frente. Portanto, em sua memória familiar e histórica, a “guerra” para eles não é tanto pessoal quanto o que está escrito nos livros de história e mostrado nos filmes. E a marcha na Praça Vermelha em Moscou.

A Rússia, que antes reivindicava o monopólio do “legado da vitória”, … expropriou a memória histórica. Lembra daqueles adesivos nos carros: “Para Berlim!”, “Podemos repetir!”, “Avós lutaram!..”? E as fitas de São Jorge.

Nunca ouvi em Belarus “Podemos repetir!”. Aqui sempre disseram o contrário: “Nunca mais!”

Esta é a diferença fundamental. O que para alguns era uma dor inescapável, outros interpretavam como uma ocasião para ostentação arrogante.

Eis o resultado.

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